quarta-feira, 11 de junho de 2008

Gênero: Carta Argumentativa
Tema: Criação de animais para alimentação


Conheça trechos da entrevista que o filósofo australiano Peter Singer, autor de Libertação animal (1975), e Ética da Alimentação (2007), e professor da Universidade de Princeton, Estados Unidos, concedeu à revista Veja.

Veja – Em seu último livro, o senhor volta ao tema dos direitos dos animais. Não é contraditório justificar o aborto e a eutanásia mas defender a vida dos bichos?
Singer – Sempre fui mal interpretado nesse aspecto. Em nenhum momento disse que não devemos comer carne porque é errado matar os animais. O alvo de minhas críticas é a maneira como os animais são criados e abatidos para consumo.

Veja – O senhor argumenta que é preciso pensar na comida de forma ética. O que significa isso?
Singer – As pessoas precisam parar de pensar na comida apenas como algo de que se gosta ou que faz bem à saúde. O ato de comer é também uma decisão ética e moral. É necessário pensar nas conseqüências do comer, tanto para os animais que nos servem de alimento como para o meio ambiente ou para nós próprios. A forma como nos alimentamos hoje faz o animal sofrer, provoca uma epidemia de obesidade no mundo e é causa de uma série de doenças nos seres humanos. Isso tem impacto no planeta e no meio ambiente.

Veja – O que há de errado na criação dos animais destinados à alimentação humana?
Singer – Os animais são criados nas fazendas industriais sem a mínima dignidade. Os porcos, que instintivamente procuram abrigo para alimentar seus filhotes, não podem sequer se mexer, porque vivem num espaço mínimo. Os filhotes são arrancados da mãe o mais rápido possível, para que possam engordar e procriar. O gado não come capim, como todo mundo pensa, mas restos de animais e seus excrementos. Os frangos criados em granjas vivem em galpões que abrigam até 20 000 aves que nunca vêem a luz do dia, só a luz artificial. São abarrotados de antibióticos e hormônios para ganhar peso. Quem não se interessa pelos bichos deve pelo menos pensar em si próprio. A doença da vaca louca é um exemplo do resultado dessa forma de criação estapafúrdia. Além disso, o confinamento de bilhões de animais, alimentados de forma excessiva para o abate, exige uma quantidade incomensurável de plantações. Em alguns anos não haverá mais terra para o plantio no planeta. Isso sem falar que a China e a Índia, com suas enormes populações, começaram a reproduzir métodos ocidentais de criação de animais. Se esse processo continuar, aumentarão os danos ao ambiente, a incidência de doenças cardíacas e os casos de câncer do sistema digestivo. São bons motivos para avaliar a comida moralmente.

Veja – O que o senhor propõe para mudar essa situação?
Singer – Eu sou vegetariano, mas não acredito que parar de comer carne seja a solução para o mundo. Há maneiras mais dignas de criar os animais, respeitando sua natureza e o meio ambiente. Pode parecer contraditório, mas são os próprios produtores de alimentos que vão imprimir essas mudanças. Na primeira etapa do processo, o consumidor precisa ser educado. Esse é um dos objetivos do meu livro. As pessoas têm de conhecer a realidade das fazendas industriais e saber que suas escolhas têm muito peso para modificar a atitude dos empresários do ramo em relação aos animais. O mercado só produz o que consumidor quer. O consumo de vitela, por exemplo, caiu drasticamente quando se tornou público que os bezerros são separados da mãe e transformados, propositalmente em animais anêmicos, confinados em espaços minúsculos, para que sua carne fique macia e branca.

Veja – Os produtores de alimentos estão dispostos a mudar seus métodos de criação de animais de maneira drástica?
Singer – Eles não têm muita saída. No mês passado, o maior produtor de porcos dos Estados Unidos, a Smithfield Farms, anunciou uma reestruturação nos criadouros de seus animais, hoje confinados em pequenos espaços. A empresa tem 187 fazendas de porcos nos Estados Unidos e prevê que só em dez anos as mudanças serão implantadas em todas elas. Mas a simples divulgação da medida já desencadeou uma série de outras ações, inclusive de empresas menores, que conseguirão resultados mais rapidamente. Poucos dias depois de a empresa anunciar isso, a maior produtora canadense de porcos decidiu fazer o mesmo.

Veja – A ação dessa empresa decorre da conscientização do consumidor?
Singer – Sem dúvida. É uma reação em cadeia. A empresa americana só promoveu mudanças em sua criação de porcos porque sofreu pressão de um de seus maiores clientes, o McDonald´s. E isso só aconteceu porque os clientes do McDonald´s mostraram indignação com a forma como os porcos são criados. O mesmo está ocorrendo em relação ao aquecimento global. A preocupação das pessoas com o futuro do planeta é cada vez maior, o que tem pressionado as empresas a mudar suas atitudes e seus métodos de produção, criando alternativas para evitar a emissão de dióxido de carbono.

(...)

Veja – Em seu livro, escrevendo sobre a obesidade, o senhor sugere uma reflexão sobre o conceito da gula. Por que a sugestão?
Singer – Comemos demais e desnecessariamente. As religiões, de certa forma, sempre exerceram um controle sobre o que os fiéis comem. Uma leitura moral da história da alimentação revela que, de todas as religiões, a que menos conteve os excessos alimentares foi o cristianismo. Não se encontra na cultura cristã a série de restrições alimentares presente no islamismo, no judaísmo e até mesmo na tradição hinduísta. Nessas três culturas, há diversas advertências sobre o que se deve ou não comer. O que existe na tradição cristã é o pecado pelo excesso de comida, a gula, que foi esquecido ao longo dos séculos pelos cristãos. Esqueceram-se da gula e preocuparam-se com outros pecados, principalmente ou de natureza sexual. O maior exemplo disso são os Estados Unidos. É um país cristão por natureza e, mesmo assim, a nação com a maior população obesa do mundo. Precisamos pensar sobre isso. Afinal, uma pessoa que come o dobro ou mais de carne do que precisa, carne proveniente de animais criados para o consumo, não faz mal apenas a si mesma. Esse hábito tem impacto no planeta e, do ponto de vista moral, também é duplamente ruim

(...)

Veja – O que diria a quem deseja ser ético em relação à alimentação diária?
Singer – O que defendo no livro, e faço questão de deixar bem claro, é que não precisamos ser vegetarianos para ser éticos. Da mesma forma que não precisamos parar de usar carro para ajudar a combater o aquecimento global – podemos usar o tipo de energia usada para o carro funcionar. Na questão alimentar é possível, por exemplo, evitar a carne de animais criados de forma tradicional. Uma boa opção é escolher os produtos animais provenientes das chamadas fazendas orgânicas. Já é uma tremenda mudança.

Veja – E que conselhos daria a quem quer ser ético no dia-a-dia?
Singer – Comece pelo mais simples. Cumprimente as pessoa, diga bom-dia, seja educado com quem convive.

Revista Veja, edição 1996, ano 40, no. 7 (21/02/07) p.11 a 15


Leia os trechos e destaque:

a. a posição do entrevistado em relação ao consumo de alimentos

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b. as conseqüências negativas que o consumo de alimentos de forma irrefletida pode causar aos animais, ao meio ambiente e ao próprio ser humano.

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c. as propostas apresentadas pelo filósofo para diminuir os problemas apresentados e/ou para acabar com eles.

Com o auxílio de elementos presentes nos trechos da entrevista e em suas respostas, produza uma carta argumentativa a partir do seguinte recorte temático:

A atuação da sociedade civil, por meio de movimentos sociais ou ações individuais, é fundamental para alterar hábitos de consumo e de produção de alimentos. Um estímulo para essa atuação são os canais de comunicação direta com os usuários, criados por entidades representativas de empresas alimentícias.

Instruções
1) Selecione alguns problemas apresentados por Singer em sua entrevista.
2) Argumente no sentido de demonstrar como esses problemas afetam toda a sociedade.
3) Dirija sua carta a uma entidade representativa de algum setor alimentício apresentando uma reivindicação.

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Quem sou eu

Sou formada em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador. Pós-graduada em Rh pela Faculdade Olga Metting. Minha paixão por redação me fez ensinar por muitos anos em algumas escolas e cursos pré-vestibulares(Colégio Resgate, Colégio Apoio, Colégio Drummond, Colégio Sigma ,Colégio Manoel Novaes). Prestei consultoria por alguns anos. A ideía do blog é compartilhar experiência com os meus amados alunos. Januza