Vidas Secas
1.Em Vidas Secas, após ter vencido as dificuldades, postas no início da narrativa, Fabiano afirma: “Fabiano, você é um homem...”. Corrige-se logo depois: “Você é um bicho, Fabiano”. Em seguida, encontrando-se com a cadelinha, diz: “Você é um bicho, Baleia”.
Ao chamar a si mesmo e a Baleia de “bicho”, Fabiano estabelece uma identificação com ela. Na leitura de Vidas Secas, podem-se perceber vários motivos para essa identificação. Cite dois desses motivos.
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2. Agora Fabiano era vaqueiro e, ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado[...] Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado.
O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.( Graciliano Ramos)
Em “criara raízes, estava plantado’’, chape-chape’’ e “parecia um macaco”, tem-se, respectivamente:
a) hipérbole, pleonasmo e hipérbole
b) catacrese, sinestesia e sinestesia
c) catacrese, sinestesia e prosopopéia
d) metáfora, sinestesia e hipérbole
e) metáfora, onomatopéia e comparação.
Texto I
Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinhá Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo.
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins. 23ª- ed., 1969, p. 75.
Texto II
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graciliano vais criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma constituição de narrador em que narrador e criaturas se tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de aparecer
idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos. O que Vidas Secas faz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla a narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes.
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, nº- 2, 2001, p. 254.
A partir do trecho de Vidas Secas (texto I) e das informações do texto II, relativas às concepções artísticas do romance social de 1930, avalie as seguintes afirmativas.
I. O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica pelo regionalismo pitoresco, transforma-se em protagonista privilegiado do romance social de 30.
II. A incorporação do pobre e de outros marginalizados indica a tendência da ficção brasileira da década de 30 de tentar superar a grande distância entre o intelectual e as camadas populares.
III. Graciliano Ramos e os demais autores da década de 30 conseguiram, com suas obras, modificar a posição social do sertanejo na realidade nacional.
É correto apenas o que se afirma em
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.
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