segunda-feira, 9 de junho de 2008

Nascido de pai ignorado, muito cedo arrancado do colo materno, sem brasões nem glórias. José é um gato malhado, branco e preto, como é comum aos torcedores do Botafogo.

Mas não é um gato qualquer.

Entrou para a minha família, da qual é hoje um dos membros mais ilustres. Vivemos um para o outro, se assim posso dizer.

Em certos momentos, chego a temê-lo. Por que me olha assim, com os olhos azuis agora, amarelo depois, muito verdes em certos momentos, olhos que lembram os meus passados distantes, naqueles em que eu era ainda sonhadora e visionária? Por que me olha assim José, horas a fio, sem se mexer, sem pestanejar, como se estivesse me passando a limpo, me aprendendo de cor? O que quererá dizer esse olhar profundo que acompanha nos menores gestos? Estarei sendo aplaudida, criticada, ou simplesmente apenas amada? José, seu comportamento, suas ações, sua maneira de encarar a vida, dá para um volume e isto é uma crônica. Ora, crônica é conversa rápida, peça jornalística, ou literária que deve ser curta, pelo que vou direta às azeitonas.

A primeira vez que José viu uma azeitona, ela estava inteira.

Dei-lhe porque sua presença, no momento em que me alimento, exige participações. A azeitona caiu no chão, fugiu, correu e José atrás dela. Naturalmente conseguiu afinal prendê-la, porque José, como já disse, é de minha família: teimoso, persistente, corajoso. Logo que conseguiu a presa, provou-a, abandonou-a Uma conquista nem sempre vale a pena ser guardada, foi com certeza o que pensou.

A azeitona conquistada, possuída, mordida, foi desprezada.

Agora, a funcionária da casa, que exerce também as funções de cozinheira - é ótima -, preparou um prato no qual entravam azeitonas partidas, sem caroço. Ora, uma azeitona , assim, deixa de ter o interesse inicial, torna-se um ingrediente qualquer, um tempero, uma coisa que perdeu sua origem, digamos mesmo: uma azeitona sem caroço é um simulacro de azeitona. Desejei ver o que pensaria José daquele fruto que perseguiu um dia; como iria julgá-la agora que não podia correr, fugir? Dei-lhe pedaços de azeitona do referido prato, cujo nome não sei, porque não é minha especialidade conhecer nomes de comidas.

José provou as fatias do fruto da oliveira (tentei em vão fugir deste pernosticismo) e gostou. Desde o primeiro momento, com o primeiro pedaço comido, olhou-me em êxtase. Senti que para seu paladar muito exigente (cada um com sua personalidade e José tem a sua bem forte), a azeitona estava sendo considerada delícia. Fiquei observando suas reações.

Comeu, comeu, e à medida que comia tornava-se tão feliz, que, terminando o que havia no prato, teve a mais linda demonstração de alegria: virou as patinhas para o alto, deitou-se de costas e agitou-se num contentamento total.

José descobriu, num almoço, o sabor das azeitonas. Não sei se percebeu que aquelas fatias eram daquele caroço vestido que perseguiu uma vez.

ESTUDO DE TEXTO

1.José era um gato:

a) torcedor do Botafogo

b) sem "pedigree"

c) de poucas aventuras

d) de paladar pernóstico

e) sonhador e visionário

2 - Assinale a passagem que comprova a resposta ao item anterior

a) "...José é um gato malhado, branco e preto..."

b) "... com olhos azuis agora, amarelo depois, muito verdes em certos momentos..."

c) "... dá para um volume e isto é uma crônica.

d) "José provou as fatias do fruto de oliveira... e gostou."

e) "Nascido de pai ignorado... sem brasões nem glórias..."

3.Para a autora, "Descoberta da Azeitona" é uma crônica por ser:

a) a história de um gato

b) sobre as vicissitudes de uma azeitona,

c) descrição do comportamento de José

d) direta, rápida e sem digressões

e) história de uma família

4. "A azeitona caiu no chão, correu de José atrás dela", com a certeza de que era:

a) uma azeitona mesmo

b) um afago de sua dona

c) um novelo de lã

d) um petisco

e) um brinquedo

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Quem sou eu

Sou formada em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador. Pós-graduada em Rh pela Faculdade Olga Metting. Minha paixão por redação me fez ensinar por muitos anos em algumas escolas e cursos pré-vestibulares(Colégio Resgate, Colégio Apoio, Colégio Drummond, Colégio Sigma ,Colégio Manoel Novaes). Prestei consultoria por alguns anos. A ideía do blog é compartilhar experiência com os meus amados alunos. Januza